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Textos contemporáneos

Teatro Dom Roberto – Teatro tradicional itinerante português de marionetas – o saloio de alcobaça e os novos palheta

O livro do Dom Roberto Tudo começou nos primeiros anos da década de 80 quando conheci o João Paulo Seara Cardoso, o Manuel Costa Dias e o Mestre António Dias. Tinha na altura uns 13 anos e participava num projeto escolar de teatro de marionetas orientado pela professora Lúcia Serralheiro da Benedita/Alcobaça. Com o passar dos anos fui ficando cada vez mais ligado ao teatro de marionetas acabando por criar uma estrutura profissional com a Sofia Vinagre, o companheiro de longa data Jaime Leão, Luis Duarte do grupo Os Picaretas, Israel Costa Pereira e outros amigos e familiares. Demos-lhe o nome de S.A.Marionetas – Teatro & Bonecos. Apesar de saber falar com a palheta e saber de cor os espetáculos de Robertos de tanta vez que assisti o Mestre António Dias a atuar, só em 1998 é que me atrevi a fazer o meu teatro Dom Roberto. Talvez por achar que ainda não era a minha vez ou um pouco por medo de falhar aos olhos do Mestre Dias. Depois, muito pela pressão feita por os meus companheiros Sofia Vinagre, Jaime Leão e Natacha Costa Pereira, lá comecei a fazer os meus robertos. Primeiro, O Barbeiro Diabólico. Depois A Tourada, O Castelo dos Fantasmas, A Rosa e os Três Namorados e agora O Saloio de Alcobaça. Ao longo de todos estes anos fui recolhendo tudo o que encontrava sobre o teatro Dom Roberto e atirando para dentro de uma caixa de cartão. Não era um arquivo organizado, mas estava tudo no mesmo lugar. Assim tinha documentos que um dia podiam ajudar quem quisesse estudar esta forma de teatro popular português. Os anos passaram e surgiu a possibilidade de se realizar um mestrado em Teatro na Universidade de Évora com a especialidade de Ator-Marionetista orientado pela professora Christine Zhurbac onde, entre outros, o João Paulo e o Manuel Dias iriam ser professores. Em conversa com o João Paulo este insistiu para que eu tirasse o curso pois em Portugal a maior parte dos marionetistas não tem formação académica superior na área, principalmente por nunca ter existido tal formação em Portugal e esta era uma oportunidade a não perder. No primeiro ano que abriu este mestrado não se realizou, mas em 2011 o curso realizou-se. Infelizmente o João Paulo não pode ver este sonho concretizar-se, pois deixou-nos prematuramente. Este livro divide-se em dois capítulos, o primeiro é o trabalho realizado para a Universidade de Évora e que foi apresentado e defendido para obter o grau de Mestre em Teatro especialidade Actor-Marionetista. O segundo capítulo durou cerca de 3 anos a ser concluído e fez com que percorresse Portugal de norte a sul passando por Macau, à procura dos marionetistas que ainda realizam o teatro Dom Roberto. É um registo fotográfico essencialmente feito por Sofia Vinagre que percorreu milhares de quilómetros comigo procurando os bonecreiros do teatro Dom Roberto. A ideia foi fazer um registo de todas as marionetas, objetos e estruturas utilizadas pelos bonecreiros do teatro Dom Roberto em atividade entre os anos 2010 e 2013. Durante décadas escondeu-se o como fazer este tipo de teatro, pois era a única fonte de subsistência de quem o apresentava e assim não existia concorrência. Por ser tão guardado só chegaram até nós, nem meia dúzia de histórias. Espero que com este livro surjam mais novos Palhetas e mais trabalhos sobre e para o teatro Dom Roberto, pois ainda existe muito para se escrever. Espero que este trabalho seja somente o primeiro de muitos que irão surguir sobre tão nobre arte e que o façam com o mesmo amor e carinho que os mestres que lutaram contra tudo e todos o fizeram para manterem a tradição viva. Como diria o mestre António Dias “Ainda tens de engolir muitas palhetas até conseguires falar com a voz de falsete”. José Manuel Valbom Gil